Diante
da incerteza sobre a aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o
vice-presidente Michel Temer entrou na linha de frente das articulações para
conseguir votos a favor do afastamento de sua parceira de chapa. Se até semanas
atrás apenas os interlocutores de Temer atuavam no corpo-a-corpo com políticos
para conseguir apoio ao impeachment, nesta reta final para a votação do
processo na Câmara o vice-presidente passou a fazer diretamente o contato com
parlamentares e dirigentes partidários em busca de votos.
Nos
últimos dias, Temer conversou sobre o tema com políticos de diversos partidos
da base aliada, como o ministro Gilberto Kassab (Cidades) e o presidente do
PSD, Guilherme Campos; o ex-presidente do PR e principal liderança do partido,
Valdemar Costa Neto, a quem telefonou na quarta-feira; além de deputados e
senadores desses partidos, do PP e do próprio PMDB, onde há divisão sobre o
impeachment.
Caminho sem volta
Segundo
um desses políticos, Temer teria partido para o “tudo ou nada” diante da
avaliação de que está em um caminho sem volta. Foram tantos e tão simbólicos
seus gestos no sentido de um afastamento do Palácio do Planalto que, caso o
impeachment não seja aprovado, sua situação junto ao governo tende a ficar
insustentável. Paralelamente, integrantes da tropa de choque de Temer já
negociam espaços em um futuro governo do PMDB. Parlamentares do PR dizem que
foi oferecido ao partido manter o Ministério dos Transportes, mas turbinado,
com secretarias de Portos, Aeroportos e Infraestrutura Terrestre.
Nas
conversas, segundo interlocutores, Temer fala da importância de “estarem juntos
para superar este momento grave”, tirar o Brasil da crise e “colocar as coisas
em ordem”. O vice ainda se oferece para atender demandas dos políticos, mas,
segundo relatos, sem especificar negociações sobre participação em um eventual
governo seu. Em alguns casos, o vice-presidente pede que seu interlocutor
“pense bem” sobre a decisão que pretende tomar. No caso de Guilherme Campos, as
investidas de Temer não devem ter tanto impacto sobre o resultado, já que o PSD
liberou os deputados da bancada para votarem conforme suas vontades,
independentemente de o partido pertencer à base governista.
—
Tenho ótima relação com Temer, mas seria uma sinalização muito ruim neste
momento eu me encontrar com ele porque estou correndo atrás das pendências e
passivos dos deputados em relação ao governo. E agora, com a saída do PMDB da
base, finalmente as coisas estão acontecendo. Mas, o PSD respeita a posição de
cada deputado sobre o impeachment e não irá interferir — disse Campos ao GLOBO.
Telefonemas com alertas
O
deputado Valtenir Pereira (PMDB-MT), que integra a comissão do impeachment,
conta que recebeu um telefonema de Temer esta semana. A abordagem foi
cuidadosa, sem pedido direto de voto pró-impeachment. Mas o vice ponderou que
ele deveria ter “cuidado” em sua escolha já que é candidato a prefeito de
Cuiabá. Disse para avaliar bem a posição a ser adotada considerando a disputa
eleitoral. O Mato Grosso acrescentou Temer a Valtenir, é um estado agrícola e
tem um percentual considerável de pessoas a favor do impeachment. O deputado
disse que não se definiu e que prepara um voto em separado para apresentar na segunda-feira.
—
Foi uma conversa tranquila, ele é muito equilibrado. Não me senti constrangido.
Gostei muito da abordagem dele e levo em consideração sim, mas há outros
componentes a serem considerados para minha decisão. Senti que, independente da
decisão do meu voto, isso não fechará portas — contou o peemedebista que se
filiou recentemente à legenda.
A
assessoria de Temer confirma que o vice tem mantido contato com lideranças
políticas de diversos partidos, mas nega que haja pedidos diretos de votos a
favor do impeachment. Outros peemedebistas disseram que, nos telefonemas, Temer
mantém seu estilo discreto e não pede votos de forma direta.
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