A
Polícia Federal aponta para “possível envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva em práticas criminosas”. Em relatório de 44 páginas anexado ao
inquérito da Operação Acarajé, em que complementa pedido de buscas, o delegado
Filipe Hille Pace analisa a anotação “Prédio (IL)” encontrada no celular do
empresário Marcelo Odebrecht ao lado de valor superior a R$12 milhões.
“Em
relação à anotação ‘Prédio (IL)’ a equipe de análise consignou ser possível que
a tal rubrica faça referência ao Instituto Lula. Caso a rubrica ‘Prédio (IL)’ refira-se
ao Instituto Lula, a conclusão de maior plausibilidade seria a de que o Grupo
Odebrecht arcou com os custos de construção da seda da referida entidade e/ou
de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva”, escreve Pace.
O
delegado assinala que “é importante que seja mencionado que a investigação
policial não se presta a buscar a condenação e a prisão de ‘A’ ou ‘B’. o ponto
inicial do trabalho investigativo é o de buscar a reprodução dos fatos. A
partir disso, se tais fatos apontarem para o cometimento de crimes, é natural
que a persecução penal siga em curso, com o indiciamento pelo delegado de
polícia, o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público”.
“O
possível envolvimento do ex-presidente da República em práticas criminosas deve
ser tratado com parcimônia, o que não significa que as autoridades policiais
devam deixar de exercer seu papel constitucional”, ressalta o relatório.
Planilha
O
delegado aponta para uma planilha com anotações “possivelmente idealizada por
Marcelo Bahia Odebrecht”. Os dados, segundo ele, “revelam, a partir do que foi
possível apurar em esfera policial, o controle que o dirigente máximo do Grupo
Odebrecht tinha sobre a destinação de recursos, à margem da lei, ao Partido dos
Trabalhadores”.
O
relatório faz menção, ainda, ao ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso
desde abril de 2015 na Lava Jato. “Há, em anotação do celular de Marcelo Bahia
Odebrecht menção a palavra ‘Prédio’. Na nota, a palavra está acompanhada de
‘Vaca’, sendo que a conclusão alcançada foi a de que seriam disponibilizados
recursos a João Vaccari Neto”. O documento pontua a composição do montante de
R$12, 42 milhões supostamente destinado à construção do Instituto Lula – três
vezes o valor de R$1.057.000,00 (R$3.171.000,00), acrescido dos valores de
R$8.217.000,00 e 1.034.000,00.
Outro lado
Procurado,
o Instituto Lula não fez comentários sobre questões subjetivas, como a
informação do relatório de que o suposto envolvimento do ex-presidente deve ser
tratado com parcimônia. Explicou ainda que a sede do instituto nunca foi
construída, mas adquirida. “O Instituto Lula foi fundado em 2011. Ou seja, nem
existia em 2010. Ele deu continuidade ao Instituto Cidadania, e funciona como o
Instituto Cidadania funcionava, em um sobrado que foi adquirido em 1991. Caso a
reportagem do Estado de S. Paulo, ou
o delegado vissem a data de criação do IL ou a data da construção da sua sede
veriam que a suposição não procede”.
*IL: Instituto Lula.